"Sentes que um tempo acabou,
Primavera de flores adormecida.
Qualquer coisa que não volta que voou,
Que foi um rio, um ar na tua vida.
E levas em ti guardado
O choro de uma balada,
Recordações de um passado,
O bater da velha Cabra.
Capas negras de saudade,
No momento da partida.
Segredos desta cidade
Levo comigo para a vida.
Sabes que o desenho do adeus
É fogo que nos queima devagar
E, no lento cerrar dos olhos teus,
Fica a esperança de um dia aqui voltar.
E levas em ti guardado
O choro de uma balada,
Recordações de um passado,
O bater da velha Cabra
Capas negras de saudade,
No momento da partida.
Segredos desta cidade
Levo comigo para a vida."
E porquê nesta altura? Precisamente por ser altura de Queima, porque, na minha humilde opinião, a Queima das Fitas não tem absolutamente nada a ver com Coimbra. Minto, a Queima das Fitas é Coimbra, mas as chamadas "noites do parque" são uma completa aberração ao espirito.
Coimbra não é nem nunca foi ir para um recinto ouvir música de merda a uma altura tal que nem se consegue ouvir uma pessoa a falar e embebedarmo-nos até não conseguir mais, Coimbra nunca foi andar trajado para engatar,Coimbra nunca foi promiscuidade e criancice...
Coimbra é Coimbra dos amores, do sonho, da tradição.
Há que separar duas coisas, o que é um acontecimento e o que é a tradição estudantil. As noites do parque são um acontecimento que é perfeitamente comparável a um festival de Verão; não só é comparável como se pode dizer que é idêntico, e eu adoro festivais de Verão. Quando foi criada a Queima das Fitas foi criada com o intuito de os estudantes se desforrarem antes da época final de exames, foi para aproveitarem o tempo livre e divertirem-se; é certo que agora os estudantes fazem isso, aproveitam e divertem-se, mas não há espirito nenhum de estar no meio de milhares de pessoas onde ninguém se consegue mexer e se demora meia hora (com sorte) a ir de uma ponta do recinto para o outro.
Eu sei, estou a contradizer-me. Mas deixem-me deixar de vos explicar o que não é Coimbra e explicar-vos o que Coimbra é.
Coimbra é andar a passear pelas ruelas e pelos becos desde a baixa até à Sé Velha; Coimbra é passar uma tarde numa tasca com os amigos a falar sobre tudo e sobre nada com um jarro de traçadinho; Coimbra é cantar ao desafio quando aquela altura chega; Coimbra é andar trajado à noite por aí com aquela brisa fria a bater na cara e admirar toda a beleza duma cidade, toda a beleza dum rio; Coimbra é estar sentado a contemplar a lua e a aproveitar a altura, com plena consciência que aquele momento é unico e irrepetível, que nunca mais iremos sentir a felicidade de não ter preocupações e ao mesmo tempo termos toda a liberdade do mundo; Coimbra é ouvir fado com o coração, é sentir a música; Coimbra é ser boémio e romântico.
Quem nunca sentiu isto nunca amou Coimbra, apenas lhe está grato.
Percebem?
Passando ao ridículo, se a música Traçadinho fosse escrita actualmente chamar-se-ia Vodka Laranja e deveria falar sobre estar mais uma vez a cair de bêbedo, sobre ir para casa com pessoas estranhas e em vez da tasca naturalmente passar-se-ia num bar ou numa discoteca.
Eu não posso ser hipócrita, eu também vou à Queima, também lá passo a noite na tenda a ouvir a música e também bebo, nothing wrong with that, mas isso não é Coimbra, é só isso.
Naturalmente esta é apenas a minha opinião.
2 Comments:
At 10:48 AM,
Anonymous said…
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At 8:01 PM,
Anonymous said…
Tudo dito...
Nada a acrescentar.
Eu estudo em Setubal mas toda esta mistica e tradicoes estudantis tambem estao bem vivas.
Nao é uma comparação (nem nada parecido), mas vive-se este espirito tambem como em muitos lados (lisboa?) nao se vive.
Tenho de voltar a Coimbra...quase que apetece estudar mal se chega a casa! eheh Espirito academico no seu estado mais puro...
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