LOST
ou, como uma série é demasiado complicada de perceber para a população geral.
(atenção, quem ainda não viu o final da quarta temporada não leia o post até ao fim, contém spoilers)
Eu sempre defendi que tudo que se passa na série Lost tem uma explicação e que nem os criadores nem os argumentistas criam os acontecimentos do nada. A verdade é que várias referências à fisica quântica já foram feitas na explicação de grande parte dos fenómenos passados na série.
Pois é pessoal, está na hora de voltar aos livros para se conseguir perceber o que se passa na série mais vista de sempre de sempre; não deixa de ser curioso haver este fenómeno de uma série em que 99 % das pessoas não percebe o que está a ver, temos de nos esforçar para fazer parte do 1 %.
O grande problema, se a minha teoria estiver certa é que as pessoas não percebem mas não se preocupam com isso, uma vez que as cadeias de televisão e cinema mais mainstream arranjam sempre uma maneira de explicar o que não é compreensível simplesmente juntando qualquer coisa ao final que explique tudo. Por exemplo, no caso do Lost uma boa maneira de fazer isso seria no final revelar que toda a série era o sonho de uma das personagens; já está, não há mais explicações para ninguém; ou que eles afinal estavam mortos e aquilo era uma espécie de limbo. Felizmente, acho que é muito mais do que isso; não há nenhum acontecimento que não tenha uma base nem que seja muito teórica por trás.
A introdução de física quântica no cinema não é nova; já em 2001, o filme Donnie Darko faz grandes incursões na temática das viagens no tempo e nos já muito teorizados "buracos de verme". Não confundir viagens no tempo com um DeLorean voador com que o Michael J. Fox ia "de volta ao passado" tocar guitarra na festa da escola ou "de volta ao futuro" andar num skate sem rodas que plana e é o máximo, no futuro; nada disso, falo aqui da hipótese real da distorção entre o espaço e o tempo. E se em 1514 dizer para uma sociedade heliocentrista que afinal o Sol não está no centro do sistema solar não deve ter sido fácil, também não me é para mim fácil perceber este conceito, mas o que é verdade é que há variadissimas teses, ensaios e experiências que dão esta distorção entre espaço e tempo possível; sendo grande base destas teorias a mais que famosa teoria da relatividade, que toda a gente reduz à fórmula E=mc^2, mas que muito pouca gente consegue explicar.
Deixo-vos aqui a explicação do final da quarta temporada do Lost dada pelo físico Richard Muller:
"Mover a Ilha seria possível na realidade
Muitos fãs torceram "um pouco" o nariz quando, no season finale deste ano, viram Ben a mover a Ilha girando aquela roda semi-congelada. "Demasiada fantasia", terão pensado. Esquecendo um pouco o mecanismo subjacente à roda, a verdade é que mover uma ilha seria possível na realidade. É isso que explica Richard Muller, professor de Física da Universidade da Califórnia, neste artigo da Popular Mechanics. Muller fala ainda sobre o efeito Casimir e as viagens no tempo em Lost:
Einstein aprovaria mover a Ilha em Lost
Em Lost, Ben moveu a Ilha - presumivelmente milhares de milhas. Será que ele o poderia fazer sem enormes acelerações que iriam obliterar todas as estruturas e matar todas as pessoas da Ilha? A resposta surpreendente, em física, é sim... bom, mais ou menos. O truque é que não se movimenta verdadeiramente a Ilha. Em vez disso, mudamos a sua ligação espaço-tempo com o resto da Terra.
O espaço e o tempo na teoria da relatividade são bastante flexíveis. A gravidade é uma manifestação disso mesmo. De acordo com a descoberta de Einstein, a presença de energia maciça distorce o espaço-tempo; o que percepcionamos como gravidade é apenas a curvatura do espaço-tempo. É essa a Teoria da Relatividade Geral, agora firmemente estabelecida graças a testes experimentais. O estranho comportamento do espaço-tempo (o facto de que dois gémeos viajando em separado podem vivenciar diferentes porções de tempo, por exemplo) é verificado diariamente nos nossos laboratórios de física, utilizando partículas radioactivas em vez de gémeos. Eu próprio já o verifiquei.
Aqui fica um exemplo simples de como podemos mudar as distâncias sem movimento. A distância entre o Sol e a Alfa Centauro é de cerca de 4,3 anos-luz. Se um pequeno buraco negro passasse a meio dessa distância, os efeitos gravitacionais das duas estrelas seriam negligenciáveis - no entanto, a distância em linha recta entre as duas estrelas tornar-se-ia infinita. As duas estrelas não se moveram; ao invés, mudámos a natureza do espaço na região entre os astros. O buraco negro tem em seu redor uma infinitamente profunda distorção do espaço. Claro que, se queremos viajar de uma estrela para outra, vamos à volta - evitando o buraco negro.
Talvez já tenha lido algo sobre buracos de verme, esses objectos teóricos na actual teoria da relatividade. Ainda não temos conhecimento da existência de nenhum, mas parecem ser possíveis. Os físicos adoram jogar com o conceito. Eles podem conectar dois universos paralelos ou duas partes de um universo dobrado (um universo dobrado tem três dimensões espaciais que estão curvadas numa quarta dimensão espacial).
Para, em termos físicos, explicar o movimento da Ilha em Lost, vamos assumir que a Ilha está realmente conectada ao Pacífico Sul por uma distorção espaço-tempo semelhante a um buraco de verme (não tem de ser um simples buraco de verme, pode ser um conjunto de tubos paralelos e/ou que se intersectam). Para mover a Ilha, tudo o que temos de fazer é mover a ligação do buraco de verme, não a Ilha em si. É isso que penso que Ben fez. Ele mudou a natureza da ligação espaço-tempo entre a Ilha e o resto do mundo.
Então a Ilha não desapareceu, não se moveu. Imagine que está a visitar uma pequena cidade que costumava visitar quando era mais novo. Conduz durante milhas e milhas, mas nunca lá chega. A cidade não se moveu. Em vez disso, a auto-estrada agora passa à volta da cidade. Foi isso que Ben fez - ele moveu a auto-estrada.
Se isto estiver correcto, explica o papel de Daniel Faraday, o físico. Pelas referências no seu quadro-negro e pelas suas experiências com o espaço-tempo, é claro que ele percebe de relatividade avançada e mecânica quântica. Ele insiste em viajar de e para a Ilha numa trajectória precisa de 305 graus - provavelmente para permanecer no centro do buraco de verme, que é algo como o buraco da agulha. Permanecendo no buraco da agulha, estamos bem - mas qualquer desvio baralha por completo o nosso espaço-tempo (especialmente em buracos de verme complexos), explicando assim as estranhas excursões de Desmond no espaço e no tempo.
Penso que, tendo um buraco de verme real, este teria uma estrutura semelhante a uma esponja e, se percorremos e ficamos presos nesse contínuo espaço-tempo, então todo o tipo de coisas estranhas poderiam acontecer. O que aconteceria realmente é algo que não podemos prever, tal como os cientistas têm dificuldade em prever o movimento das ondas no oceano ou de uma vela sujeita a uma brisa. Essas coisas são simplesmente complicadas.
O final da quarta temporada fez também referência ao efeito Casimir. Este é um fenómeno bem conhecido em mecânica quântica e já foi medido experimentalmente. O efeito Casimir é a consequência do facto de o vácuo conter energia. Algumas pessoas especularam que poderíamos extrair energia infinitamente do vácuo. Eu penso que não, mas talvez esteja errado, e Ben tenha descoberto uma forma de o fazer. Suspeito que Ben seja também um físico - a única pessoa que descobriu como entender a ligação entre a teoria quântica e a relatividade, e como manipular esses conceitos - pelo menos em certo nível, tal como ele manipula as pessoas. É por isso que Charles Widmore está tão ansioso por capturar Ben vivo. Só o Ben compreende verdadeiramente a física da Ilha."
ou, como uma série é demasiado complicada de perceber para a população geral.
(atenção, quem ainda não viu o final da quarta temporada não leia o post até ao fim, contém spoilers)
Eu sempre defendi que tudo que se passa na série Lost tem uma explicação e que nem os criadores nem os argumentistas criam os acontecimentos do nada. A verdade é que várias referências à fisica quântica já foram feitas na explicação de grande parte dos fenómenos passados na série.
Pois é pessoal, está na hora de voltar aos livros para se conseguir perceber o que se passa na série mais vista de sempre de sempre; não deixa de ser curioso haver este fenómeno de uma série em que 99 % das pessoas não percebe o que está a ver, temos de nos esforçar para fazer parte do 1 %.
O grande problema, se a minha teoria estiver certa é que as pessoas não percebem mas não se preocupam com isso, uma vez que as cadeias de televisão e cinema mais mainstream arranjam sempre uma maneira de explicar o que não é compreensível simplesmente juntando qualquer coisa ao final que explique tudo. Por exemplo, no caso do Lost uma boa maneira de fazer isso seria no final revelar que toda a série era o sonho de uma das personagens; já está, não há mais explicações para ninguém; ou que eles afinal estavam mortos e aquilo era uma espécie de limbo. Felizmente, acho que é muito mais do que isso; não há nenhum acontecimento que não tenha uma base nem que seja muito teórica por trás.
A introdução de física quântica no cinema não é nova; já em 2001, o filme Donnie Darko faz grandes incursões na temática das viagens no tempo e nos já muito teorizados "buracos de verme". Não confundir viagens no tempo com um DeLorean voador com que o Michael J. Fox ia "de volta ao passado" tocar guitarra na festa da escola ou "de volta ao futuro" andar num skate sem rodas que plana e é o máximo, no futuro; nada disso, falo aqui da hipótese real da distorção entre o espaço e o tempo. E se em 1514 dizer para uma sociedade heliocentrista que afinal o Sol não está no centro do sistema solar não deve ter sido fácil, também não me é para mim fácil perceber este conceito, mas o que é verdade é que há variadissimas teses, ensaios e experiências que dão esta distorção entre espaço e tempo possível; sendo grande base destas teorias a mais que famosa teoria da relatividade, que toda a gente reduz à fórmula E=mc^2, mas que muito pouca gente consegue explicar.
Deixo-vos aqui a explicação do final da quarta temporada do Lost dada pelo físico Richard Muller:
"Mover a Ilha seria possível na realidade
Muitos fãs torceram "um pouco" o nariz quando, no season finale deste ano, viram Ben a mover a Ilha girando aquela roda semi-congelada. "Demasiada fantasia", terão pensado. Esquecendo um pouco o mecanismo subjacente à roda, a verdade é que mover uma ilha seria possível na realidade. É isso que explica Richard Muller, professor de Física da Universidade da Califórnia, neste artigo da Popular Mechanics. Muller fala ainda sobre o efeito Casimir e as viagens no tempo em Lost:
Einstein aprovaria mover a Ilha em Lost
Em Lost, Ben moveu a Ilha - presumivelmente milhares de milhas. Será que ele o poderia fazer sem enormes acelerações que iriam obliterar todas as estruturas e matar todas as pessoas da Ilha? A resposta surpreendente, em física, é sim... bom, mais ou menos. O truque é que não se movimenta verdadeiramente a Ilha. Em vez disso, mudamos a sua ligação espaço-tempo com o resto da Terra.
O espaço e o tempo na teoria da relatividade são bastante flexíveis. A gravidade é uma manifestação disso mesmo. De acordo com a descoberta de Einstein, a presença de energia maciça distorce o espaço-tempo; o que percepcionamos como gravidade é apenas a curvatura do espaço-tempo. É essa a Teoria da Relatividade Geral, agora firmemente estabelecida graças a testes experimentais. O estranho comportamento do espaço-tempo (o facto de que dois gémeos viajando em separado podem vivenciar diferentes porções de tempo, por exemplo) é verificado diariamente nos nossos laboratórios de física, utilizando partículas radioactivas em vez de gémeos. Eu próprio já o verifiquei.
Aqui fica um exemplo simples de como podemos mudar as distâncias sem movimento. A distância entre o Sol e a Alfa Centauro é de cerca de 4,3 anos-luz. Se um pequeno buraco negro passasse a meio dessa distância, os efeitos gravitacionais das duas estrelas seriam negligenciáveis - no entanto, a distância em linha recta entre as duas estrelas tornar-se-ia infinita. As duas estrelas não se moveram; ao invés, mudámos a natureza do espaço na região entre os astros. O buraco negro tem em seu redor uma infinitamente profunda distorção do espaço. Claro que, se queremos viajar de uma estrela para outra, vamos à volta - evitando o buraco negro.
Talvez já tenha lido algo sobre buracos de verme, esses objectos teóricos na actual teoria da relatividade. Ainda não temos conhecimento da existência de nenhum, mas parecem ser possíveis. Os físicos adoram jogar com o conceito. Eles podem conectar dois universos paralelos ou duas partes de um universo dobrado (um universo dobrado tem três dimensões espaciais que estão curvadas numa quarta dimensão espacial).
Para, em termos físicos, explicar o movimento da Ilha em Lost, vamos assumir que a Ilha está realmente conectada ao Pacífico Sul por uma distorção espaço-tempo semelhante a um buraco de verme (não tem de ser um simples buraco de verme, pode ser um conjunto de tubos paralelos e/ou que se intersectam). Para mover a Ilha, tudo o que temos de fazer é mover a ligação do buraco de verme, não a Ilha em si. É isso que penso que Ben fez. Ele mudou a natureza da ligação espaço-tempo entre a Ilha e o resto do mundo.
Então a Ilha não desapareceu, não se moveu. Imagine que está a visitar uma pequena cidade que costumava visitar quando era mais novo. Conduz durante milhas e milhas, mas nunca lá chega. A cidade não se moveu. Em vez disso, a auto-estrada agora passa à volta da cidade. Foi isso que Ben fez - ele moveu a auto-estrada.
Se isto estiver correcto, explica o papel de Daniel Faraday, o físico. Pelas referências no seu quadro-negro e pelas suas experiências com o espaço-tempo, é claro que ele percebe de relatividade avançada e mecânica quântica. Ele insiste em viajar de e para a Ilha numa trajectória precisa de 305 graus - provavelmente para permanecer no centro do buraco de verme, que é algo como o buraco da agulha. Permanecendo no buraco da agulha, estamos bem - mas qualquer desvio baralha por completo o nosso espaço-tempo (especialmente em buracos de verme complexos), explicando assim as estranhas excursões de Desmond no espaço e no tempo.
Penso que, tendo um buraco de verme real, este teria uma estrutura semelhante a uma esponja e, se percorremos e ficamos presos nesse contínuo espaço-tempo, então todo o tipo de coisas estranhas poderiam acontecer. O que aconteceria realmente é algo que não podemos prever, tal como os cientistas têm dificuldade em prever o movimento das ondas no oceano ou de uma vela sujeita a uma brisa. Essas coisas são simplesmente complicadas.
O final da quarta temporada fez também referência ao efeito Casimir. Este é um fenómeno bem conhecido em mecânica quântica e já foi medido experimentalmente. O efeito Casimir é a consequência do facto de o vácuo conter energia. Algumas pessoas especularam que poderíamos extrair energia infinitamente do vácuo. Eu penso que não, mas talvez esteja errado, e Ben tenha descoberto uma forma de o fazer. Suspeito que Ben seja também um físico - a única pessoa que descobriu como entender a ligação entre a teoria quântica e a relatividade, e como manipular esses conceitos - pelo menos em certo nível, tal como ele manipula as pessoas. É por isso que Charles Widmore está tão ansioso por capturar Ben vivo. Só o Ben compreende verdadeiramente a física da Ilha."
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